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Caetano&Bethânia: em Setembro no Mineirão

Caetano Veloso e Maria Bethânia deram uma prévia de sua turnê histórica Caetano&Bethânia, que se iniciará em agosto de 2024, em entrevista ao Fantástico neste domingo, 17. Os dois cantaram e também contaram um pouco sobre a infância no programa, e reviveram a escolha do nome de Bethânia, além de remontar os primeiros sucessos de Caetano, cantados pela irmã caçula. “Eu acho Caetano fora do comum”, disse a cantora.

Caetano revelou a escolha por trás do nome de Maria Bethânia: a valsa do compositor pernambucano Capiba, Maria Bethânia, ouvida por ele na voz de Nelson Gonçalves. Ele contou que a família decidiu o nome por meio de um sorteio, mas que não imagina a irmã com outro nome que não o escolhido.

“Sem Bethânia eu não estaria aqui”, confessou Caetano, comentando sobre a presença de palco e a desenvoltura da irmã. Ela também falou sobre a sintonia com Caetano, citando que “são gêmeos do ventre em momentos diferentes”.

O primeiro sucesso do cantor, É de Manhã, foi gravado na voz de Maria Bethânia em 1965. Os dois apresentaram a música durante o programa da TV Globo. “Ele é o chefe do meu barco mesmo”, Bethânia confessou também, entre os versos de Reconvexo, música escrita por Caetano para ela em 1969.

Ao ser homenageado durante o carnaval pelo bloco Filhos de Gandhy, Caetano disse que as “férias radicais” que tirou foram em vão. “Nem me deixou descansar. Gravava todos os dias”, Bethânia riu, ao relembrar.

Na esteira de ações que antecedem a nova turnê juntos, os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia relembraram momentos marcantes da infância e da trajetória em família. A dupla se prepara para uma série de shows em 2024 por sete capitais brasileiras e compartilhou lembranças da cumplicidade.

Uma das memórias foi a de quando Caetano “participou ativamente” da escolha do nome de sua irmã: “Tinha uma valsa do compositor pernambucano Capiba, que o Nelson Gonçalves gravou, que eu adorava. Ela nasceu, era menina, e eu disse: ‘Tem que ser Maria Bethânia’. Meu pai pegou o chapéu dele, colocou todos os nomes que tinham sido sugeridos e dobrados em papéis e mandou eu tirar. Eu tirei e saiu o nome que eu escolhi”, disse em entrevista ao Fantástico.

Veloso também destacou a importância da cantora em sua carreira: “Sem Bethânia eu não estaria aqui. Desde o primeiro dia, ela tinha 17 anos, tinha uma presença e uma desenvoltura que o público já aplaudia como se fosse uma estrela nacional. Ela gravou ‘Carcará’, que já era sucesso da Nara Leão, mas foi multiplicado por mil em sua voz. No outro lado do disquinho, a minha música (‘É de Manhã’)”.

Bethânia, por sua vez, falou sobre a admiração que sente pelo irmão: “Eu acho ele fora do comum, a inteligência dele, a maneira como ele conduz, onde ele deposita. Sempre falo que ele é o mestre do meu barco”. A cantora também contou que Caetano não descansou em suas “férias radicais” anunciadas em dezembro nem a deixou descansar. “Tinha gravação todo dia”, afirmou.

Sobre a turnê Caetano&Bethânia, por Claudio Leal

A turnê Caetano & Bethânia tem um significado especial para a música popular brasileira, para a história dos dois irmãos e para os fãs que sonham em vê-los em um só espetáculo. Nascidos em Santo Amaro, no recôncavo baiano, Caetano Veloso e Maria Bethânia são reconhecidos como artistas essenciais à formação cultural de várias gerações, com trajetórias projetadas para além da música, inspirando criadores em todas as partes e em todas as artes.

Esse reencontro histórico em arenas do país permite a cada espectador uma visão ainda mais clara da força criadora de Caetano e Bethânia, unidos desde a infância pela memória de canções. Na família Veloso, falou mais alto a sugestão de Caetano para o batismo da irmã como “Maria Bethânia”, nome extraído de uma música de Capiba cantada por Nelson Gonçalves.

A voz de Bethânia seria um dos motores da entrega de Caetano à vida de compositor. A história dessa partilha musical se iniciou há 60 anos, no show “Nós, por exemplo”, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964. Ainda muito jovens, numa fase de revelação de caminhos para a música brasileira, eles surgiram como artistas inseparáveis de sua geração, no meio do agito das artes na capital baiana, ao lado de Gal, Gilberto Gil, Tom Zé, Roberto Santana, Alcyvando Luz, Djalma Corrêa, Fernando Lona, Piti e Perna Fróes. Bethânia despontava, porém, como uma cabeça acima de movimentos, determinada a criar um projeto estético fiel às suas paixões musicais profundas. Antes e depois do tropicalismo, Caetano seria um tradutor fraterno dessa poética.

Com a mudança de Santo Amaro para Salvador, em 1960, os irmãos se tornaram cúmplices nas descobertas de uma grande cidade, da literatura de Clarice Lispector e de seus destinos artísticos. Juntos, experimentaram o teatro, a música e o cinema. Caetano era então o guia urbano de Bethânia, ainda saudosa da vida e da alma santamarenses. Em sua ida para o Rio de Janeiro, onde substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião em 1965, Bethânia viajou acompanhada de Caetano, atendendo ao pedido do pai, José Telles Velloso. O sucesso da cantora teria consequências na história da música popular e no desenvolvimento das carreiras de Caetano, Gal e Gil.

Aos 18 anos, ela avisou ao irmão que dali para frente definiria sozinha seu rumo no mundo. Mas, desde então, suas trajetórias artísticas não deixaram de estar entrelaçadas. Caetano compôs mais de 30 canções para gravações originais de Bethânia, pensando no alcance de sua voz e em sua presença cênica. Ainda na juventude, esse arco de belezas envolveu “Sol Negro” (em duo com Gal Costa) e “De Manhã” e se desenvolveria em joias como “Gema” e “Reconvexo”, um hit da “destemida Iara”.

Mesmo canções registradas pelo próprio Caetano ganharam versões de forte marca autoral de Bethânia, como “Tigresa”, “O Ciúme” ou “Sete Mil Vezes”. Em “Um índio”, nos Doces Bárbaros, a cantora reivindicou para si a utopia indígena de Caetano. Não à toa, o escritor argentino Julio Cortázar suspeitava que os dois irmãos eram uma só pessoa.

Em seis décadas de carreira, Caetano e Bethânia sustentaram um pacto artístico silencioso, uma identidade atemporal que aflorou em momentos decisivos: no álbum “Drama” (1972), produzido por Caetano, relevante para seu aprendizado em estúdio no retorno do exílio; na formação do grupo Doces Bárbaros, em 1976, quando Bethânia aglutinou seus manos baianos; no show que virou disco ao vivo, em 1978; em duos pontuais em suas discografias e – impossível esquecer – nas festas familiares no quintal de dona Canô, em Santo Amaro.

Além de fazer letras, por vezes incorporando frases literais de Bethânia (“Baby” nasceu assim), ele também vestiu com melodias os poemas de Waly Salomão destinados à Abelha-Rainha. Com ela, aprendeu a amar a jovem guarda de Roberto Carlos. Esse elo musical e existencial ganhou um sentido elevado em tempos sombrios. No exílio em Londres, em 1971, Caetano cantou para o Brasil: “Maria Bethânia, please send me a letter”. Na pandemia, como mensagem contra a tristeza repentina do mundo, a irmã sugeriu que ele cantasse “Noite de Cristal”, que clama por “dias de outras cores”. A canção entraria no álbum “Meu Coco”, de 2021

A identificação mútua originou pontos brilhantes na criação do compositor, que chegava a traduzir melhor suas próprias emoções a partir da presença dramática da irmã. Caetano tem sido um decifrador do mito artístico de Bethânia dentro e fora dos palcos. Nessa linhagem de canções, podem ser lembradas “Drama” (“minha voz soa exatamente/ de onde no corpo da alma de uma pessoa/ se produz a palavra eu”), “Tapete Mágico” (“no palco Maria Bethânia desenha-se todas as chamas do pássaro”) e “Motriz”, em que ambos celebram a voz da mãe, Canô, como a matriz de um dom (“em tudo a voz de minha mãe/ e a minha voz na dela”). Em “Vaca Profana”, a irmã é sinônimo de intensidade amorosa: “Quero que pinte um amor Bethânia”.

Em outros momentos, seus projetos artísticos levaram para o mundo os amores, as festas, as alegrias e as dores dos nascidos em Santo Amaro. Em “Purificar o Subaé” (1981) os irmãos cantaram pela salvação do rio de sua aldeia, falando em nome de todos os rios de todas as aldeias.

Fiel a uma história de tantos desejos, a turnê Caetano & Bethânia vai apresentar em todas as regiões do país a eternidade poética de duas vozes que nos ajudaram a viver, mudar e pensar nosso tempo. A festa, a devoção, o canto de Canô, a dança do irmão Rodrigo Velloso, o som do Recôncavo, o samba da Mangueira, Gal, o raio de Iansã, alto astral, lindas canções: Caetano & Bethânia.

BELO HORIZONTE

Data: 07 de setembro (sábado)

Local: Estádio Mineirão

Endereço: Av. Antônio Abrahão Caram, 1001 – São José, Belo Horizonte – MG

Ingressos: a partir de R$ 140,00 (ver tabela completa)

Classificação: 16 anos. Menores de 05 a 15 anos, apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais.*

*Sujeito à alteração por Decisão Judicial.

Cenario Minas
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