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qui, 05 dezembro 24

Tempos e lugares marcam exposição de Paulo Nazareth no Inhotim

Nova montagem de Esconjuro traz obras inéditas, além da consagrada série de fotografias Notícias de América

Brumadinho, MG – Em Esconjuro, exposição monográfica de Paulo Nazareth, inaugurada no Inhotim em abril de 2024, tempo e espaço são alargados e conjugados nas quatro estações do ano: outono, primavera, verão e inverno, fazendo com que se resulte em quatro versões diferentes da mesma exposição. A partir de 23 de novembro, sábado, o público pode encontrar uma nova configuração da mostra em sua segunda estação, a primavera, ao apresentar mudanças no espaço expositivo e obras inéditas, que continuam a ocupar a Galeria Praça e outras áreas externas do museu e jardim botânico.

Com curadoria de Beatriz Lemos, curadora coordenadora do Inhotim, e de Lucas Menezes, curador assistente do Inhotim, Esconjuro parte das relações entre história, território e deslocamento. E Paulo Nazareth confirma, cada vez mais, que suas obras são como uma presença viva e dinâmica ao longo desses quase dois anos de permanência no Inhotim. Para o artista, Esconjuro é uma mostra em expansão, que ocupa não somente o lugar do visual, mas também o vínculo com outros sentidos. “Meu desejo, mais do que tudo, é que exista uma conversa com o público, com os funcionários, com a comunidade local. O desejo é que essa mostra seja viva, algo que esteja acontecendo sempre. É uma abertura que precede outras aberturas dentro de si mesma”, comenta Paulo Nazareth.

Esconjuro, de Paulo Nazareth, desafia os modos tradicionais de trabalho no museu, pois se apresenta como uma exposição mutável, sazonal e dependente de uma série de articulações internas, entre diferentes áreas da instituição, para que cada obra seja executada em sua melhor maneira. Valendo-se, assim, de um lugar generoso para o artista no que diz respeito ao processo e à experimentação.

“A estação Primavera se anuncia como momento de olharmos para a produção de Paulo como artista caminhante, que evidencia a importância dos trânsitos e as mudanças com as quais nos deparamos com o passar do tempo. Nesta atual montagem o artista propõe uma nova experiência cromática para o espaço e traz o preto como símbolo de transmutação e espiritualidade”, explica Beatriz Lemos, curadora e coordenadora da instituição.

Na estação anterior, outono, Esconjuro foi composta por obras que apontam diversas maneiras de se relacionar com a terra, seus ciclos e as transformações que suscitam no meio ambiente, ao mesmo tempo que indicam as práticas de exploração e disputa historicamente conhecidas no território. Agora, a primavera chega como uma forma de transmutação, com foco nos trânsitos e migrações para percorrer as rotas realizadas pelo artista em sua célebre série Notícias de América – na qual registra um grande conjunto de ações performáticas ao atravessar o continente americano a pé e de carona, acumulando nos pés a poeira de cada um dos lugares que passou. Um recorte dessa série fotográfica é apresentado em diálogo à obra Marco Temporal, já presente na primeira estação da mostra, e representa a expressão mais significativa do preceito estabelecido por Nazareth, de percorrer toda América Latina antes de pisar pela primeira vez nos Estados Unidos da América.

Esse fluxo é também base para Casas de Pássaros, obra externa desta estação, instalada no Jardim Sombra e Água Fresca – um dos jardins temáticos do museu. Construídas em madeira, com projetos de inspiração modernista, as casas são um convite de morada aos pássaros que atravessam a região do Inhotim.

“O conjunto de ‘casas modernosas’ proposto por Paulo Nazareth se relaciona a uma visão de progresso e modernidade que, no caso brasileiro, foi antes anunciada pela arquitetura, processo que culminou, por exemplo, na construção de Brasília. Na prática, o progresso não chegou para todos, e a criação da nova capital provocou sérios impactos ambientais no Cerrado, afetando flora e fauna. Casas de pássaros foi totalmente produzida a partir do diálogo entre o artista, os curadores, os pesquisadores do Jardim Botânico da exposição, além dos arquitetos envolvidos no projeto. A produção das peças foi realizada pelo Carlão, encarregado de marcenaria do Inhotim.”, acrescenta Lucas Menezes, curador assistente do Inhotim.

Do rosa RIRO, do orixá Ewá, as paredes da Galeria Praça levam nova cor para lembrar que é tempo de transmutação. A cor preta remete o ambiente ao carvão, elemento que em muitas tradições afro-brasileiras trata de transformação, purificação e proteção, e conforma um poderoso duo com o efum, pó branco de base calcária que é utilizado em rituais no Candomblé, com intenção de promover calma e equilíbrio, clareza e iluminação. As formas circulares de efum se alastram na prática artística de Nazareth e ganham presença sobre imagens e símbolos da série White ethnography e na litogravura O Guarani, primeiro Múltiplo do artista para o Instituto Inhotim.

Esconjuro conta com a Vale como mantenedora master e com o patrocínio master da Shell, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

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