“Entre os distúrbios alimentares, o que tem mais estudos em relação à massa óssea é a anorexia nervosa: cerca de 90% das mulheres adultas com essa condição apresentam osteopenia e 38% terão osteoporose”, relata Dra. Patrícia Muszkat, endocrinologista da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO.
Segundo a médica, a anorexia antes dos 18 anos de idade está associada a uma pior densidade mineral óssea na coluna. Essa alteração ocorre por diversos mecanismos: a ingestão insuficiente de calorias, de proteínas e de micronutrientes, principalmente o cálcio, além de diversas alterações hormonais.
“Essas pessoas geralmente fazem uso de diuréticos e laxativos e com frequência apresentam deficiência de vitamina D, ou seja, um quadro que, dada já a baixa massa óssea, favorece ainda mais o risco de fraturas”, explica Dra. Patrícia. Estudo (leia aqui) mostrou que essas pacientes têm 2 vezes mais chance de ter fratura em qualquer parte do corpo. Só no fêmur, o risco aumenta em 6 vezes, comparando com pessoas sem anorexia.
O exercício físico é um dos grandes pilares para fortalecimento de músculos e ossos, porém, a prática não é recomendável para pacientes com anorexia que estejam com IMC (Índice de Massa Corpórea) abaixo de 14 e na fase aguda da doença. “Quanto menor o peso, maior fragilidade a óssea. Porém ao mesmo tempo em que precisamos fortalecer este osso, temos de esperar a pessoa ganhar peso para podermos introduzir os exercícios físicos. Já nos pacientes com o peso controlado, há alguns ensaios clínicos indicando que o exercício físico supervisionado traz muitos benefícios”, comenta a endocrinologista.
Entre as doenças gastrointestinais, a doença celíaca e a doença intestinal inflamatória são as que mais frequentemente se associam à perda óssea.
Dados indicam que a doença celíaca tem uma prevalência estimada de até 1% da população. “Por volta de 75% dos adultos que não são tratados apresentarão algum grau de perda óssea. A osteoporose pode estar presente mesmo nos pacientes sem sintomas gastrointestinais”, comenta Dra. Patrícia.
A doença intestinal inflamatória, que engloba a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, está associada a uma alta prevalência de osteopenia e osteoporose, com incidência de fratura de 1 para cada 100 pacientes por ano. “Isso vai aumentando com a idade. A incidência de fratura chega a ser 40% maior do que a população geral, sendo que chega a ser 74% maior para fraturas vertebrais.
Esses pacientes geralmente precisam de glicocorticoide para o tratamento, o que contribui ainda mais para uma redução de massa óssea, de cerca de até 12% no primeiro ano de tratamento. Além disso, existe a diminuição da absorção de cálcio, que pode levar ao hiperparatireoidismo secundário”, explica a endocrinologista.
Para os pacientes com doença celíaca, a dieta sem glúten tende a contribuir na melhora da massa óssea; para as pessoas com doença inflamatória intestinal e alto risco para fraturas, o tratamento pode consistir no uso de bisfosfonato.