30.2 C
Belo Horizonte
ter, 18 novembro 25

Nova exposição na Mitre Galeria propõe uma imersão

Na nova exposição do artista Diego Mouro, intitulada “e também as flores”, o público é convidado a adentrar um universo que entrelaça ancestralidade, religiosidade e uma poética visual única. A mostra fica em cartaz na Mitre Galeria de 26 de outubro a 30 de novembro e traz como ponto central a relação entre o corpo negro e suas histórias, sempre vivas e pulsantes, e o sincretismo que envolve a cultura afro-brasileira, especialmente a devoção à Nossa Senhora do Rosário, figura de grande importância para as fraternidades negras no Brasil. Em agosto de 2024, o congado foi reconhecido como patrimônio cultural, reforçando a relevância dessas tradições para a identidade afro-brasileira. Através de suas pinceladas, Diego resgata não apenas a memória dessas fraternidades, mas também traça um paralelo entre a tradição e o presente, colocando as flores como símbolo de devoção e resistência.

“Para mim, a ancestralidade não é algo do passado, ela é um presente que se alarga continuamente. Quando pinto flores, estou falando daquelas que foram oferecidas por fraternidades negras para Nossa Senhora do Rosário, mas também daquelas que serão ofertadas no futuro. É uma conexão que transcende o tempo”, explica Mouro, ao discutir como sua obra se desdobra além das representações convencionais do negro na arte. O título da exposição, que à primeira vista pode parecer um simples detalhe poético, é uma chave para compreender essa relação mais profunda entre devoção e arte. “As flores são mais do que elementos decorativos, elas são oferendas, são manifestações de fé, e é nessa intersecção que trabalho.”

“Quando Diego nos trouxe o conceito da exposição, percebemos o quanto ele dialoga com o propósito da Mitre Galeria de promover narrativas que unem a estética com o poder das tradições e da memória”, afirma Rodrigo Mitre, fundador da Mitre Galeria. “Sua obra tem a capacidade de fazer essas conexões de forma intensa e sensível”.

Diego, que se autodenomina herdeiro da tradição pictórica de artistas negros do século XIX e início do XX, como Arthur Timótheo e Emmanuel Zammor, também desafia as expectativas ao inserir flores em suas narrativas visuais. Essas flores, no entanto, não são apenas decorativas. Elas se tornam símbolos de resistência e de uma história de emancipação que atravessa os séculos. “A pintura de flores tem uma tradição acadêmica na arte a óleo, mas eu busco ir além da estética. Para mim, elas são uma forma de falar da luta dos negros no Brasil, das fraternidades que, durante a escravidão, juntavam dinheiro para comprar a liberdade dos seus”, destaca o artista.

O trabalho de Mouro tem um impacto político e estético que subverte as expectativas. Em um momento em que muitos artistas negros são pressionados a explorar o trauma e a violência racial, Diego traz a beleza e a espiritualidade como formas de resistência. As flores em suas obras não são apaziguadoras, mas sim potentes mensageiras de uma herança que não pode ser esquecida. A partir dessa abordagem, a exposição se diferencia ao não ceder ao apelo fácil das representações trágicas, mas ao invés disso, oferece um olhar complexo sobre a experiência negra no Brasil.

Os elementos florais presentes nas obras de Diego Mouro têm raízes profundas tanto na iconografia católica quanto nas tradições afro-brasileiras, como as congadas e os reinados. “A flor é um veículo de devoção. Oferecemos flores tanto no candomblé quanto para os santos católicos. Elas carregam em si a mística das nossas crenças, e, ao pintá-las, estou convidando o público a participar desse diálogo espiritual”, reflete o artista. Assim, as flores tornam-se, em seu trabalho, pontes entre o terreno e o sagrado, entre o passado e o presente, sempre conectadas à ancestralidade.

A exposição “e também as flores” é, portanto, uma viagem imersiva por essas narrativas visuais e culturais. Para o Rodrigo Mitre, a escolha de manter-se fiel à técnica de óleo sobre tela reflete o compromisso de Diego com uma arte que respeita as tradições, ao mesmo tempo que desafia as convenções contemporâneas. “Ele utiliza a técnica de forma magistral, mas não como um fim em si. O óleo sobre tela é o meio pelo qual ele materializa suas conversas com as pessoas flores e nos convida a fazer parte dessa história contínua”, finaliza.

A exposição não apenas celebra o legado cultural das fraternidades negras, mas também questiona e expande a noção de ancestralidade, propondo um tempo circular, no qual passado e presente coexistem. Para Diego Mouro, arte é memória viva. Ao criar uma aliança entre os mundos visível e invisível, sua obra não só preserva, mas também renova e atualiza as tradições culturais negras. Como ele mesmo afirma: “A ancestralidade não é sobre o que passou, é sobre o que ainda vive em nós. E também as flores.”

SERVIÇO

Exposição “e também as flores” de Diego Mouro, na Mitre Galeria

 

Abertura: 26 de outubro, das 11 às 17h

Visitação: 29 de outubro a 30 de novembro

Terça a sexta-feira, das 10 às 19h

Sábado, das 10 às 16h

Endereço: R. Tenente Brito Melo, 1217, Barro Preto, Belo Horizonte

Instagram: @mitregaleria | @diego.mouro

mitregaleria.com

 

 

Cenario Minas
Cenario Minashttps://cenariominas.com.br
Revista Cenário's ou (Portal Cenário Minas) é uma revista digital de variedades que destaca a vida na capital nas suas mais diferentes vertentes: sociedade, comportamento, moda, gastronomia, entre outros temas. A publicação digital se notabiliza pela absoluta isenção editorial e por praticar um jornalismo sério, correto e propositivo, cuja credibilidade e respeito ao leitor são seus apreços primordiais.

Posts Relacionados

Juventude Marista em Defesa da Casa Comum

Encontro nacional em Belém reúne estudantes de todo o...

Confraria VIVA realiza 3ª edição inspirada na Argentina em BH

A Confraria VIVA, projeto idealizado por Cibele Faria para...

Policial militar reformado vira réu por feminicídio

Crime aconteceu em outubro deste ano no bairro Carlos...

Bolsa Família chega a mais de 1,3 milhão de beneficiários

Valor médio do benefício no estado é de R$...

Justiça mantém Programa de Transferência de Renda em Brumadinho

Mineradora deve manter pagamento a atingidos por rompimento de...

Novidades

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui