Como um registro documental e atmosférico do movimento de chegada a São Paulo, o novo álbum de estúdio da cantora e compositora mineira Clara Castro é intitulado a partir de sua principal ferramenta criativa. Perambule vem do ato de vaguear, andar sem um destino certo, e foi dessa maneira que o novo disco foi embalado. Ao longo de dez faixas, o álbum reúne experimentações e ensaios de uma pesquisa iniciada na pandemia, com o intuito de Clara mergulhar em seus próprios arquivos e memórias pessoais, desde que se mudou de Juiz de Fora para a capital paulista. Com a co-produção de Nathan Itaborahy, e um desdobramento visual assinado por Anas Obaid, Perambule mescla regravações – como os singles já apresentados Hora de Acordar e A Torre – com canções inéditas, das quais se destaca a faixa-título, Perambule, uma representação da sonoridade e temática do projeto completo. Ouça o disco completo aqui.
“O álbum nasceu num ambiente despretensioso, com a interação da nossa casa – que abriga o home studio, Estúdio Torto, – com a cidade. Como registro desse atrito, eu e Nathan unimos o meu desejo de imprimir maior teatralidade na minha música, com a pesquisa dele sobre o som das coisas”, resume Clara. O casal de artistas passou a abraçar a tal ‘poluição sonora’ de buzinas e construções que persistem em São Paulo como instrumentos na música. Toda esta narrativa, posteriormente, desaguou na parte visual com o uso de câmeras de vigilância, semáforos, portas e cadeiras, para dar luz aos elementos que compõem o cotidiano. Entre 2022 e 2023, Nathan trouxe bases e samples que ganharam novas camadas, arranjadas coletivamente por ele na bateria, Lucas Gonçalves nas guitarras e Douglas Poerner no baixo. As vozes foram captadas mais tarde no Submarino Fantástico, em São Paulo, e as gravações passaram ainda pelo LadoBê, em Juiz de Fora. Já a mixagem e masterização são de Pedro Serapicos, com edição de Matheus Souza e edição de vozes por DropAllien.
A sonoridade de Perambule é reflexo de uma coleção de registros documentais, memórias e vozes, que se misturam em uma experiência estética anacrônica. “Quis transportar os ouvintes para diferentes tempos e espaços, para refletirmos sobre a nossa relação com as redes e dispositivos, além de pensar a solidão urbana e a necessidade de sair em busca de um sentido no inesperado, diante das paisagens contraditórias presentes na metrópole”, afirma Clara. Entre as influências que direcionaram a espinha dorsal do trabalho, estão nomes atuais da música brasileira, como Tulipa Ruiz, Pitty, Jadsa e Céu, além de pinceladas de um pop da norte-americana Billie Eilish, um quê de indie rock, e até sons que formaram a base de Clara e Nathan, como o Clube da Esquina.
Das dez canções que compõem a tracklist do disco, sete foram lançadas anteriormente no álbum visual ANA (2021), são elas “Astronauta”, “Fé na Fé”, “Fome de Gritar” (com participação da MC e poeta Laura Conceição), “Canções Perdidas na Calçada”, “Genesis”, “Hora de Acordar” e “A Torre” (com participação do clarinetista Caetano Brasil). Entre as inéditas, Clara apresenta “Morro da Garça”, vinheta que ecoa a voz de seu avô Osvaldo, nascido em Morro da Garça, uma cidade pequena de Minas Gerais. O disco ainda traz “Outras Notícias do Oriente”, uma composição que sintetiza o encontro da artista com o diretor visual Anas Obaid. E, por fim, a faixa-título “Perambule”, uma síntese do álbum, ambientada no contexto urbano e tecnológico onde as relações humanas se esfacelam.
Frame de “Gênesis”, por Ítalo Almeida – download aqui
Visual
Com direção artística de Anas Obaid, os frames são de André Almeida (em “Fé na Fé”, “Fome de Gritar”, “A Torre”, “Canções Perdidas na Calçada”, “Morro da Garça” e “Hora de Acordar”) e Ítalo Almeida (em “Gênesis”), a edição é de Cèline Billard. “O trabalho tem um fio documental e poético, que captura o cinema da vida real, cotidiana, mais especificamente da cidade de São Paulo, onde damos luz a cenas e objetos e detalhes pelos quais passamos todos os dias sem nos dar conta”, afirma Anas.
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CLARA CASTRO
Voz suave, melodias intensas e composições acentuadas marcam a trajetória de Clara Castro. A cantora e compositora original de Barbacena, no interior de Minas Gerais, é guiada pela arte desde nova, quando passou a amplificar seus meios de se expressar para o teatro, a música e suas composições entre o MPB, indie rock e um pop alternativo. De lá pra cá, Clara debutou com o EP de faixas autorais Quarto Crescente (2012), que atualmente só existe em formato físico, e logo na sequência mergulhou em experimentações com amigos conterrâneos no EP Imagens Tortas (2012). O primeiro disco, intitulado Caostrofobia, foi lançado em 2018 – com distribuição da Som Livre. Clara ainda apresentou o álbum visual Ana (2021), além de uma série de singles, como Céu Só (com Márcio Moreira e Joma Catanhede), Junto Só (com Laura Jannuzzi) e Enquanto os Homens Dormem.
Entre a música e o teatro, os palcos se tornaram casa para a artista. O seu primeiro show foi em 2012, em sua cidade natal, e foi também a partir dali que ela ingressou no teatro e passou a se apresentar em peças locais. Clara frequentou o Encontro de Compositores de Juiz de Fora a partir de 2013; seguiu para uma residência artística por três anos, no Grupo Ponto de Partida; em 2016, se formou na Bituca (Universidade de Música Popular) e, em 2023, no curso de Ciências Sociais pela UEMG – Barbacena. Tal trajetória trilhou seu caminho à São Paulo, onde mora atualmente. Na capital paulista, a artista finalizou o curso técnico em Teatro pelo Célia Helena, protagonizou o curta-metragem de Raíssa Teixeira, Eu Me Lembro de Você Em Lugar Nenhum, além de colaborar em músicas e videoclipes de parceiros como Pedro Oldi e a banda Čao Laru – nas faixas Pontes e Poemas e Sou Passageira, que firmaram sua presença na cena de compositoras mineiras.
Sua pesquisa artística é amplificada pelo encontro entre a música e o teatro, garantindo à cantora um olhar bastante singular. Em 2024, Clara reúne tudo isso em um trabalho sólido, seu terceiro disco de estúdio, Perambule – previsto para agosto. O projeto é resultado de mais de um ano de experimentações sonoras ao lado do produtor Nathan Itaborahy, no home studio Estúdio Torto; além de marcar o encontro e a cumplicidade musical criada na prática com o baixista Douglas Poerner e o guitarrista Lucas Gonçalves.
Adoro o trabalho dessa menina!!!!Ê um orgulho para Bsrbacena ter uma compositora e cantora de tanto talento !!!