Por Raquel Santiago (@tresraquel) e
Aline Peres (@alineperes.jornalista)
Mulheres de diversas cidades brasileiras foram às ruas neste domingo (7/12) para denunciar o aumento dos casos de feminicídio e protestar contra todas as formas de violência e violação dos direitos das mulheres. Mobilizadas por coletivos feministas, movimentos sociais e organizações de mulheres, as manifestações buscaram romper o silêncio, exigir justiça e reforçar que a sociedade não aceita mais a impunidade diante da violência de gênero.
Com frases como “Nossas vozes nunca serão caladas”, “Parem de nos matar” e “Chega de violência e feminicídio”, o Levante Nacional Mulheres Vivas aconteceu simultaneamente em capitais e cidades do interior em todo o país. Em Belo Horizonte, o ato reuniu centenas de pessoas na Praça Raul Soares, de onde as manifestantes seguiram em caminhada pela avenida Amazonas, na região central da capital.
Entre as participantes estava a psicanalista, escritora e ativista feminista Denise Coimbra, de 60 anos, que veio de Bom Despacho (MG) exclusivamente para participar do protesto. Para ela, a mobilização se impõe diante da gravidade do cenário atual.
“Estou aqui pela violência excessiva contra as mulheres ao longo da história. A gente precisa barrar isso agora para, no futuro, não precisar estar aqui novamente”, afirmou.
Desde as primeiras horas da manhã, Denise e outras mulheres se reuniram no gramado da Praça Raul Soares para confeccionar cartazes que acompanharam o percurso da marcha, que seguiu por cerca de um quilômetro até a Praça da Estação. Uma das mensagens mais recorrentes foi “Parem de nos matar”, expressão que, segundo a ativista, traduz sua vivência profissional e militante.
“Além do meu trabalho na clínica, onde atendo muitas mulheres, inclusive da periferia, recebo diariamente pacientes que sofreram diferentes tipos de violência”, relatou.

Vozes de diferentes gerações
A manifestação também foi marcada pela presença de crianças, reforçando o caráter intergeracional da luta contra a violência de gênero. Uma das falas que mais emocionou o público foi a da ativista mirim Maria Cecília Santiago da Conceição, de 10 anos, integrante do Movimento por Mais Mulheres em Todos os Espaços (MOMAM).
Ao se dirigir às manifestantes, Maria Cecília destacou a importância de as mulheres ocuparem todos os espaços de poder e decisão e reafirmou a força coletiva feminina.
“As nossas vozes nunca poderão ser caladas, pois nós somos a resistência. Principalmente porque somos a maioria. Nós somos a maioria das pessoas do país, e nossas vozes jamais devem ser silenciadas”, declarou.
A fala simbolizou a continuidade da luta feminista e evidenciou a importância da formação política desde a infância no enfrentamento à violência.
Violência em alta mobiliza mulheres às ruas
Os protestos ocorrem em meio ao avanço dos índices de violência contra mulheres. Em Minas Gerais, somente no primeiro semestre deste ano, foram registrados 78.697 casos de violência doméstica e 167 ocorrências de feminicídio, sendo 72 mortes consumadas e 95 tentativas. No estado, houve ainda um aumento de 26% nas tentativas de feminicídio em relação ao ano anterior.
Para Renata Regina Abreu, integrante do Movimento 8M Unificado da Região Metropolitana de Belo Horizonte — uma das organizações responsáveis pelo ato na capital — os dados revelam um cenário de ameaça constante.
“O contexto de violência contra a mulher vem se agravando muito rapidamente nos últimos anos. A gente vive num mundo que nos ameaça o tempo inteiro, e por isso estamos nas ruas”, afirmou.
No cenário nacional, os números também são alarmantes. Dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero apontam que cerca de 3,7 milhões de mulheres sofreram um ou mais episódios de violência doméstica nos últimos 12 meses no Brasil. Em 2024, foram registrados 1.459 feminicídios, o que representa uma média de quatro mulheres assassinadas por dia.
Em 2025, o país já contabiliza mais de 1.180 feminicídios, conforme o Ministério das Mulheres, além de quase 3 mil atendimentos diários realizados pelo Ligue 180, canal nacional de denúncia e orientação para mulheres em situação de violência.
Militância e construção coletiva
Além do trabalho clínico, Denise Coimbra destaca que sua atuação em coletivos sociais também sustenta sua militância. Ela integra o coletivo feminista OMANA (@OMANA.bd), que atua no interior de Minas Gerais com ações de conscientização, acolhimento e mobilização política.
“O engajamento coletivo nos fortalece. Essa luta é urgente e precisa ser feita em conjunto, porque a violência contra a mulher não é um problema individual, é estrutural”, afirmou.
Com o lema “Basta de feminicídio. Queremos as mulheres vivas”, os atos reuniram mulheres, homens e crianças em diferentes regiões do país, reforçando a necessidade de políticas públicas eficazes, estratégias de prevenção, proteção às vítimas e responsabilização dos agressores.
O que é feminicídio
O feminicídio é o assassinato de uma mulher por razões de gênero — quando o crime ocorre em contexto de violência doméstica ou familiar, ou por menosprezo e discriminação à condição feminina. Tipificado no Código Penal brasileiro, é considerado crime hediondo, com penas mais severas.
As manifestações deixaram um recado claro ecoando pelas ruas do Brasil: as vidas das mulheres importam — e suas vozes não serão caladas.
Crédito das fotos:
Aline Peres (@)