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Redes sociais agravam a suscetibilidade ao suicídio

Coordenador do Grupo Depressão tem Cura diz que problemas com redes sociais são comuns entre pessoas atendidas.

O uso inadequado das redes sociais tem aumentado a vulnerabilidade de pessoas com tendência ao suicídio, agravando casos atendidos pelo Grupo Depressão tem Cura. A entidade atua em todo o País e conta, em Minas Gerais, com 1,4 mil voluntários para assistir pessoas que enfrentam a depressão.

Essa avaliação foi feita por um dos coordenadores da entidade, Daniel das Neves Silva, durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta segunda-feira (16/9/24). A reunião teve o objetivo de debater o impacto das redes sociais na saúde mental dos cidadãos mineiros, principalmente de crianças e jovens.

O evento acontece por ocasião da campanha Setembro Amarelo, mês de prevenção à automutilação, à depressão e ao suicídio.

“A cada 10 pessoas, nove enfrentam problemas nas redes sociais”, afirmou Daniel Silva, referindo-se às pessoas atendidas pelo Grupo Depressão tem Cura. Para explicar por que isso acontece, o coordenador usou o exemplo da blogueira Alinne Araújo, que cometeu suicídio aos 24 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de comentários que recebeu em rede social após divulgar um evento em que teria se casado simbolicamente consigo mesma, atitude tomada após o rompimento de um relacionamento amoroso. O caso aconteceu em 2019.

Muitos usam as redes sociais como uma fuga, pois não têm com quem se abrir. É o caso de muitos jovens”, avaliou Daniel Silva. Ele advertiu, no entanto, que frequentemente essas pessoas  não encontram nas redes sociais o acolhimento de que precisam, mas sim críticas, ofensas e humilhação. É uma situação que pode levar ao suicídio.

O Grupo Depressão tem Cura utiliza o trabalho de voluntários, muitos deles ex-pacientes ou vítimas de processos depressivos, atendendo pelo telefone 11-3573-3662. Autor do requerimento para realização da audiência, o deputado Charles Santos (Republicanos)  afirmou que ele próprio enfrentou a depressão aos 11 anos de idade e elogiou o trabalho realizado pela entidade. “Até porque são todos voluntários e fazem isso no sentido de retribuir aquilo que receberam”, declarou.

O deputado foi aplaudido pela apresentação do Projeto de Lei (PL) 371/23, aprovado em 10 de setembro de 2024, que dispõe sobre a contratação de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, na estrutura da Secretaria de Estado de Saúde, para oferecer atendimento às vítimas de depressão e tendências suicidas. O projeto aguarda sanção do governador do Estado.

Charles Santos também é autor do PL 1.214/19, que originou a Lei 23.764, de 2021, que estabelece a política estadual de valorização da vida nas escolas de Minas Gerais.

Uso inadequado de redes sociais pode danificar o cérebro

Durante o debate, a médica, psiquiatra, mestre e doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais, Julia Machado Khoury, explicou que as redes sociais e smartphones, quando mal utilizados, são capazes de provocar no cérebro o mesmo tipo de impacto que drogas como a cocaína. “O uso repetido prejudica definitivamente o funcionamento do córtex pré-frontal, responsável pela racionalidade e pela contenção da impulsividade”, declarou.

Segundo ela, os sintomas de abstinência também são equivalentes aos decorrentes do uso de drogas. Crianças e adolescentes, que ainda não têm o córtex pré-frontal completamente formado, são mais suscetíveis a esses efeitos prejudiciais. Os problemas, no entanto, vão além da população mais jovem. A médica afirmou que estudos indicam que a capacidade média de concentração da população já caiu de 50 para 15 minutos.

A delegada de polícia e chefe da Divisão Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos, Cristiana Gambassi Angelini, afirmou que as redes sociais também contribuem para a expansão de diversos crimes como cyberbullying (Intimidação e perseguição online), cyberstalking (assédio através da internet) e pornografia não consensual (divulgação de imagens pornográficas sem consentimento da vítima).

De acordo com a delegada, Minas Gerais está em terceiro lugar no ranking de maior número de tentativas de golpes e fraudes no Brasil, que é o segundo país que mais utiliza aplicativos de relacionamento.

Cristiana Angelini acredita que o número de casos de todos esses crimes é muito maior do que o efetivamente registrado, em decorrência da vergonha das vítimas, gerando subnotificação. “Ninguém tem que ter vergonha de nada. Qualquer um de nós pode passar por aquilo”, aconselhou.

A subsecretária de Redes de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, Camila de Castro, disse que o objetivo do Estado é ampliar o acesso da população à rede de atenção psicossocial. A desembargadora Alice Birchal, superintendente da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, disse que a violência sexual e o tráfico de pessoas utilizam as redes sociais. “As redes sociais que deveriam nos servir, mas estamos quase a serviço delas”, lamentou.

Laços da Consciência

A adesão da ALMG à campanha Setembro Amarelo, realizada desde 2015 por diversas instituições em diferentes paises do mundo, faz parte do projeto Laços da Consciência, que reúne ações de sensibilização sobre temas relacionados ao bem-estar social dos mineiros. Em 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a Assembleia iluminou de amarelo a fachada do Palácio da Inconfidência, sede do Poder Legislativo mineiro.

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