Depois de noites de celebração, encontros prolongados e consumo elevado de bebidas alcoólicas, o corpo costuma dar sinais claros de que precisa de recuperação.
Dor de cabeça, enjoo, cansaço extremo e desidratação são alguns dos efeitos mais comuns da ressaca, um fenômeno que vai além do desconforto momentâneo e revela o impacto do álcool no organismo.
Com a ajuda de Karinee Abrahim, nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@Nutrindoldeais) RJ, especialista em emagrecimento e metabolismo do esporte e Leandro Figueiredo, nutrólogo do Instituto Nutrindo Ideais/SP (@nutrindoideais.saopaulo), montamos um guia prático de combate à ressaca. Confira:
Estratégias de combate à ressaca:
- Hidratação, a chave mestra: o álcool é diurético, causando grande perda de água e eletrólitos.
- Antes e durante: beba um copo de água para cada dose de bebida alcoólica.
- Depois: beba água de coco e isotônicos (naturais de preferência) para repor sódio e potássio. A água de coco é rica em potássio, e isotônicos naturais ajudam na reposição hidroeletrolítica.
- Dica adicional: adicione uma pitada de sal e uma fatia de limão na água, se não tiver isotônico natural, para repor eletrólitos.
Leandro explica que a ressaca é um fenômeno fisiopatológico complexo e multifatorial, que vai muito além da simples desidratação. “Após a ingestão de álcool, o etanol é metabolizado no fígado em acetaldeído, um metabólito altamente tóxico que induz estresse oxidativo, inflamação sistêmica e ativação de citocinas pró-inflamatórias. Curiosamente, estudos demonstram que a intensidade da ressaca não se correlaciona diretamente com a concentração de álcool no sangue, mas sim com a magnitude da resposta inflamatória individual, especialmente níveis elevados de interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Indivíduos com maior resposta inflamatória apresentam ressacas mais intensas, mesmo após ingestão alcoólica semelhante”.
Além disso, o álcool inibe o hormônio antidiurético, promovendo diurese excessiva, desidratação e perda de eletrólitos, o que contribui para cefaleia, fraqueza e tontura. O metabolismo hepático do etanol também inibe a gliconeogênese, favorecendo episódios de hipoglicemia, enquanto a fragmentação do sono potencializa fadiga, déficit cognitivo e maior percepção de dor no dia seguinte.
Alimentos para Recuperação do Fígado
– Banana: rica em potássio, ajuda a repor eletrólitos perdidos nutricionalmente. Uma banana média (~90g) fornece ~360mg de potássio e 80kcal.
– Ovos: contém cisteína, um aminoácido que ajuda a quebrar o acetaldeído (a toxina do álcool). Um ovo grande (~50g) tem 6g de proteína e auxilia na detoxificação hepática.
– Caldos Leves: caldo de ossos ou vegetais são fáceis de digerir e repõem minerais. Rico em sódio, potássio e minerais, ajuda na hidratação e digestão.
O Poder dos Sucos Detox Pós-Festa
O objetivo aqui é reidratar e fornecer vitaminas e antioxidantes:
- Receita de Suco Reidratante e Antioxidante (Melancia, Gengibre e Hortelã)
Ingredientes:
2 xícaras de melancia picada (rica em água e licopeno)
1 colher de chá de gengibre ralado (anti-inflamatório)
Folhas de hortelã a gosto (ajuda na digestão)
Opcional: suco de 1/2 limão.
Modo de Preparo:
Bata todos os ingredientes no liquidificador, coe se desejar, e beba imediatamente.
Suco rico em água, antioxidantes e vitaminas, ótimo para hidratação pós-álcool.
Dica adicional: Este suco ajuda na hidratação e fornece antioxidantes, mas não substitui a ingestão de líquidos como água ou isotônicos.
Suco Reidratante de Abacaxi, Pepino e Hortelã
O objetivo deste suco é hidratar o corpo e repor eletrólitos perdidos, além de fornecer vitaminas e antioxidantes que ajudam na recuperação após o consumo de álcool, explica Karinee.
Para preparar, você vai precisar de 1 xícara de abacaxi picado, que ajuda na hidratação e possui bromelina com efeito anti-inflamatório, ½ pepino médio picado, rico em água e minerais, algumas folhas de hortelã a gosto, que auxiliam na digestão, o suco de ½ limão para dar sabor e fornecer vitamina C, e 100 ml de água gelada.
Bata todos os ingredientes no liquidificador até obter uma mistura homogênea. Se desejar, coe para uma textura mais leve. Beba o suco imediatamente, de preferência após o consumo de álcool ou no dia seguinte, para manter os benefícios da hidratação e dos nutrientes. Se quiser aumentar a reposição de eletrólitos, adicione uma pitada de sal marinho.
Suco Reidratante de Melão, Gengibre e Limão
O objetivo deste suco é hidratar o organismo, repor minerais e fornecer antioxidantes, ajudando na recuperação do corpo após o consumo de álcool.
Para prepará-lo, utilize 2 xícaras de melão picado, que contém muita água e minerais como potássio, 1 colher de chá de gengibre ralado, que possui efeito anti-inflamatório, e suco de ½ limão, que fornece vitamina C e auxilia na digestão.
Coloque todos os ingredientes no liquidificador e bata até ficar homogêneo. Coe se desejar uma textura mais lisa. Beba imediatamente após o preparo, preferencialmente no período da manhã ou logo que acordar, para ajudar na hidratação, reposição de eletrólitos e recuperação do organismo.
Dica adicional: para reforçar a recuperação, você pode adicionar uma fatia pequena de pepino, que mantém o suco leve, aumenta o teor de água e fornece minerais, sem alterar muito o sabor.
Não é indicado tomar analgésicos para combater a ressaca?
Segundo Leandro, do ponto de vista farmacológico, não é correto orientar a evitação indiscriminada de analgésicos, mas sim a escolha adequada do fármaco. Analgésicos à base de paracetamol devem ser evitados durante a ressaca, especialmente nas primeiras 12 a 24 horas após o consumo de álcool.
O paracetamol é metabolizado no fígado e uma fração é convertida no metabólito tóxico N-acetil-p-benzoquinona imina (NAPQI). O álcool induz a enzima CYP2E1, aumentando a formação desse metabólito, ao mesmo tempo em que reduz as reservas hepáticas de glutationa. Um dado clínico relevante é que a lesão hepática associada ao paracetamol pode ocorrer mesmo em doses terapêuticas, especialmente quando há consumo recente de álcool ou jejum prolongado.
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), por sua vez, tendem a ser mais eficazes no alívio da dor da ressaca, pois atuam diretamente sobre a produção de prostaglandinas envolvidas no processo inflamatório, que é um dos principais mecanismos da cefaleia e da mialgia pós-álcool. Entretanto, seu uso deve ser cauteloso e preferencialmente após alimentação, considerando que o álcool também compromete a mucosa gastrointestinal, aumentando o risco de gastrite e sangramento digestivo.
Assim, o manejo adequado da ressaca envolve compreender que se trata de um estado inflamatório e metabólico transitório, no qual hidratação adequada, reposição de eletrólitos, alimentação leve para estabilização glicêmica e uso racional de analgésicos, evitando paracetamol e utilizando AINEs com critério, são as estratégias mais seguras e fisiologicamente fundamentadas.
FONTE:
Karinee Abrahim, nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@Nutrindoldeais) RJ, especialista em emagrecimento e metabolismo do esporte.
Formada pela Universidade Estácio e Pós-graduada em Metabolismo e Emagrecimento – Uniguaçu BR, membro associado da Sociedade Brasileira de Medicina da Obesidade (SBMO), experiência em nutrição esportiva e emagrecimento.
Leandro Figueiredo, nutrólogo do Instituto Nutrindo Ideais/SP (@nutrindoideais.saopaulo) / CRM-SP 188032 CRM-PA 12408 | RQE 79939.
Médico Nutrólogo, com mestrado em Gastroenterologia (USP) e Nutrólogo da Onco-hematologia e Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (Albert Einstein). Especialista em nutrologia e microbiota intestinal.