Uma em cada 10 mulheres mundo afora tem lipedema. Essa doença inflamatória crônica do tecido adiposo leva ao acúmulo desproporcional de gordura nos membros inferiores, e em alguns casos nos braços. É comumente confundida com obesidade, causando sensibilidade ao toque, equimoses frequentes e dores nas pernas. “O mais importante hoje é falar sobre a doença, ter o diagnóstico precoce, dar tranquilidade às pacientes já sofridas, que passaram por tantos profissionais, sempre julgadas por não terem força de vontade para perder peso”, diz a médica cirurgiã vascular Maria Luiza Cavalieri, CEO e fundadora da Clínica Cavalieri.
Quando é feito o diagnóstico, explica a médica, as pacientes se sentem aliviadas por saberem que a culpa não é delas, se engajam no tratamento e conseguem melhorar a qualidade de vida, o que ajuda a reduzir a progressão da doença. “O diagnóstico precoce e correto é o que vai fazer a diferença para a não evolução do lipedema, que pode atingir estágios mais avançados, com deformidades importantes e comprometimentos, inclusive das capacidades funcionais. A paciente acaba tendo dificuldades de andar, passa a ter limitações motoras devido ao acúmulo de gordura”. Maria Luiza Cavalieri lembra que há sempre uma fraqueza muscular associada ao lipedema.
“O impacto é físico na qualidade de vida, mas interfere no quadro mental. Estas mulheres são mais deprimidas, com autoestima e sentimento de autoeficácia baixos”, afirma a cirurgiã vascular. De acordo com ela, os sintomas do lipedema são o acúmulo de gordura desproporcional nos membros inferiores, dor ao toque, surgimento de hematomas com mais facilidade, sensação de perna pesada, cansada. “É uma gordura diferente, inflamada, que resiste à dieta e aos exercícios físicos.
Maria Luiza acrescenta que o diagnóstico é feito predominantemente através da história clínica da paciente e do exame físico. Ainda não existem exames laboratoriais ou genéticos capazes de diagnosticar a doença. Qual o tratamento? A médica diz que é predominante clínico, conservador. É necessário descobrir os gatilhos inflamatórios da paciente para ajudá-la a fazer mudanças no estilo de vida, visando melhora dos sintomas e consequentemente perda de peso e ganho de massa muscular. Tudo isso através de uma abordagem multidisciplinar, que envolve dieta, exercício físico, drenagem linfática (fisioterapia dermatofuncional), auxílio psicológico.
Só depois, segundo a médica, a paciente poderá se submeter à cirurgia plástica para retirada do excesso de gordura, caso tenha esta queixa estética. Ela informa que o lipedema tem predisposição individual, de origem genética. “Mas existem gatilhos que vão fazer com que se manifeste. Os principais são as oscilações hormonais, devido à forte influência do estrogênio na fisiopatologia da doença, intolerâncias ( alergias) alimentares, uso de medicamentos como corticoides e anticoncepcionais, estresse crônico ou após cirurgias.
Os estudos do lipedema, doença descrita pela primeira vez em 1940 na Alemanha, estão muito avançados no Brasil “O país é pioneiro, tem muitos trabalhos publicados, destaca-se nas pesquisas de diagnóstico e tratamento desta doença ainda com muitas incógnitas. Temos dificuldade em entender todo o mecanismo por trás. Há muito a se descobrir”, afirma a cirurgiã vascular, Maria Luiza Cavalieri.