Tema foi debatido nesta segunda (16), em audiência da Comissão de Saúde para marcar adesão da Assembleia à campanha Setembro Amarelo.
Enquanto mundialmente as taxas de suicídio caíram entre 2000 e 2020, de cerca de 1 milhão para 700 mil casos por ano, no Brasil elas aumentaram cerca de 40% no mesmo período. Essa triste realidade foi apresentada durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na segunda-feira (16/9/24), que abordou a prevenção à automutilação, à depressão e ao autoextermínio.
A reunião, solicitada pelo deputado Charles Santos (Republicanos), marca a adesão da ALMG ao Setembro Amarelo, campanha dedicada a conscientizar a população sobre formas de prevenir e reduzir o adoecimento mental.
Para Humberto Correa, vice-presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, não existe uma explicação simples para o Brasil estar na contramão do mundo na questão da prevenção ao suicídio, mas a principal resposta seria a falta de políticas públicas na área. “As evidências mostram que o tratamento rápido e efetivo de doenças mentais reduz as taxas de suicídio”, afirmou.
Ele aponta que o treinamento dos profissionais de saúde da atenção básica e a abordagem adequada do tema nas escolas são essenciais para mudar o atual paradigma, citando o exemplo de países da Europa que incluíram a saúde mental em seus currículos escolares.
Para ele, é preciso abordar o assunto desde cedo. “Muitas vezes banalizamos o suicídio na adolescência como se fosse algo normal nessa faixa etária. Não é normal”, enfatizou.
Um terço dos suicídios são cometidos por jovens
Pessoas com idade entre 15 e 29 anos representaram 34% dos casos de suicídio no país durante o ano de 2021. Os dados são do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e foram trazidos pelo major Richelmy Murta, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.
Ainda segundo o boletim, o suicídio é a terceira causa de morte entre adolescentes brasileiros de 15 a 19 anos. Já na faixa de 20 a 29 anos, o autoextermínio figura como a quarta maior causa.
Segundo o major Richelmy, são aceleradores do comportamento suicida entre os jovens as vulnerabilidades sociais, biológicas e psicológicas às quais essas pessoas estariam submetidas.
“Um transtorno psiquiátrico, uma alteração bioquímica, a impulsividade, a busca pelo perfeccionismo, a dificuldade na tomada de decisões, o desemprego, pouca interação social. Esse conjunto sinérgico catalisa algumas pessoas a se converterem na figura do tentante suicida”, explicou o major.
Redes sociais alimentam adoecimento mental
A influência das redes sociais no autoextermínio de jovens e adolescentes foi o ponto chave da discussão durante a audiência. Para os participantes, a comparação com outros estilos de vida e padrões estéticos levam usuários constantemente à autodepreciação e à busca por validação através de curtidas e compartilhamentos.
Para o deputado Charles Santos, as pessoas se sentem confortáveis para manifestar seu sentimento, seja ele positivo ou negativo, por estarem escondidas na tela do celular e protegidas pelo anonimato.
Segundo o parlamentar, as redes sociais atrapalham o sono e afetam a qualidade do descanso, implicando em novas consequências para a saúde mental. Ele defende que é preciso estabelecer uma meta de uso e adotar novos hábitos, como a leitura, exercícios físicos e passeios ao ar livre. “Há vida fora das redes sociais”, disse.
O juiz e coordenador executivo da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), José Honório de Rezende, reafirmou a preocupação com o uso excessivo de telas pelos jovens. Para o jurista, o comportamento decorre de uma “dificuldade em lidar com o real da vida”.
O ambiente propício das redes para atos de assédio e violência psicológica também foi comentado pelo vice-presidente da AMP, Humberto Corrêa: “Hoje o cyberbullying é 24 horas. E muitas vezes não é só uma pessoa perpetrando o bullying, são milhares”.
Trazendo um contraponto, o major Richelmy relatou o caso de uma tentativa de suicídio identificada a tempo por causa de uma postagem em rede social. “As redes sociais podem ser aceleradores do comportamento suicida, mas podem ser um caminho de identificação da pessoa tentando o autoextermínio”, ponderou.
Apoio de amigos e familiares e conduta ética nas redes seriam caminho
“Todo mundo pensa em desistir em algum momento da vida, mas a maioria de nós consegue combater esse pensamento, muitos não”, afirmou Tíndaro Lanes, coordenador do Projeto HELP!, ação voluntária de pessoas que já enfrentaram problemas relacionados a saúde mental, como depressão, automutilação, traumas, abusos, ansiedade e síndrome do pânico.
Ele explica que a conversa e o diálogo são a principal ferramenta para eliminar os ideais suicidas de quem está passando por sofrimento mental.
Para Sebastião Aleixo de Souza Filho, técnico legislativo da ALMG da área da Saúde, é preciso também utilizar as redes sociais com empatia. Isso inclui usar as redes de forma esclarecedora e informativa, não divulgar métodos de suicídio, não relacionar o ato com fraqueza ou falta de fé e ter cuidado ao relatar suicídios de personalidades.
Laços da Consciência
A adesão da ALMG à campanha Setembro Amarelo, realizada desde 2015 por diversas instituições em diferentes paises do mundo, faz parte do projeto Laços da Consciência, que reúne ações de sensibilização sobre temas relacionados ao bem-estar social dos mineiros. Em 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a Assembleia iluminou de amarelo a fachada do Palácio da Inconfidência, sede do Poder Legislativo mineiro.