Diante da estimativa de mais de 90 mil novos casos das doenças no Brasil, a ginecologista Laís Carvalho, da Clínica Cavalieri, reforça que a combinação de hábitos saudáveis, vacinação e rastreamento regular pode salvar milhares de vidas anualmente.
Com a projeção de mais de 90 mil novos casos de câncer de mama e de colo do útero para 2025, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), um alerta se impõe sobre o maior obstáculo para a redução dessas estatísticas: a negligência com a prevenção. Fatores como a sobrecarga de papéis, a desinformação e o medo do diagnóstico ainda afastam milhares de mulheres de exames e cuidados essenciais que poderiam salvar suas vidas.
A ginecologista Laís Carvalho, da Clínica Cavalieri — especializada em saúde da mulher — observa que reverter este cenário começa com uma mudança de mentalidade, entendendo que a prevenção vai muito além dos exames anuais.
“O autocuidado começa cedo e envolve atitudes que vão muito além dos exames. Manter um peso saudável, praticar atividade física regular, evitar o consumo de álcool e cigarro, e ter uma alimentação equilibrada — rica em frutas, verduras e grãos integrais — são medidas que reduzem o risco de vários tipos de câncer, inclusive o de mama e o de colo do útero”, explica.
Além dos hábitos de vida, o acompanhamento médico regular é insubstituível. A médica detalhe que cada exame tem uma idade e frequência corretas para garantir sua máxima eficácia.
Para o câncer de colo do útero, a prevenção começa com a vacina contra o HPV, indicada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos (mas que pode ser feita na vida adulta também), e continua com o exame de rastreio do HPV (conhecido como Papanicolau), realizado dos 25 aos 64 anos. Já para o câncer de mama, a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é a realização da mamografia anual a partir dos 40 anos.
A dra Laís reforça que a vacina do HPV é disponibilizada pelo SUS para meninas e meninos entre 9 e 14 anos mas a recomendação é que, em outras faixas etárias, tanto as mulheres quanto os homens se vacinem. “O SUS não disponibiliza para idades acima de 14 anos, mas a vacina é encontrada na rede privada e é uma arma poderosa porque essa é uma vacina que, efetivamente, protege as pessoas contra o câncer. Hoje, temos, inclusive, a nonavalente na rede privada que protege de nove tipos de HPV”. A médica ressalta que há estudos já mostrando que mesmo com a infecção presente, as pessoas que se vacinam conseguem se proteger e evitar que as lesões evoluam com maior agressividade, com uma chance muito menor de progressão para o câncer.
“A principal orientação é não adiar o cuidado preventivo. A vacinação contra o HPV, o Papanicolau e a mamografia são medidas simples, mas extremamente eficazes quando feitas na idade e frequência certas. Além disso, observar o próprio corpo e procurar o médico diante de qualquer alteração é essencial. Informação e rastreamento adequado salvam vidas”, afirma a ginecologista.
Mulheres ainda negligenciam diagnóstico precoce
Um dos maiores obstáculos para a prevenção, segundo a especialista, é a sobrecarga de papéis que muitas mulheres assumem, colocando a própria saúde em segundo plano.
“Muitas mulheres ainda negligenciam o cuidado preventivo — seja por falta de tempo, medo do diagnóstico ou até por vergonha. A sobrecarga de papéis — mãe, profissional, cuidadora — faz com que muitas coloquem a própria saúde em segundo plano. O autocuidado não é egoísmo; é o primeiro passo para conseguir cuidar dos outros também”, ressalta.
Cenário no Brasil e avanços no SUS
Os altos números de casos de câncer de mama e de colo do útero no país revelam que o acesso à saúde ainda é desigual. Laís Carvalho entende que esses números mostram que a saúde no Brasil ainda tem grandes obstáculos a enfrentar.
“Avançamos nos últimos anos em campanhas de conscientização, mas muitos casos continuam sendo diagnosticados em fases avançadas, o que reduz as chances de cura. Precisamos fortalecer a atenção básica e garantir exames para todas”, avalia a médica.
Apesar dos desafios, a Dra. Laís comemora avanços recentes na saúde pública, como a ampliação da oferta de mamografia e a incorporação do teste de DNA-HPV no SUS este ano.
“É muito positivo ver que o cuidado que realizamos há anos nos consultórios particulares está, aos poucos, sendo ampliado para a rede pública. Isso representa um grande passo em direção à equidade no acesso à prevenção e ao diagnóstico precoce, e reforça o quanto investir em saúde da mulher é investir em qualidade de vida e futuro”, finaliza.