No total, 15 peças produzidas pelas atingidas do Brasil integram a mostra que passará por quatro cidades austríacas até abril
“As arpilleras são um meio de expressar nossas angústias, nosso sofrimento, e assim nos fortalecem. É um trabalho muito bonito que vem da base para mostrar ao mundo a nossa realidade”. A fala de Maria Madalena de Oliveira, de Itaituba, no Pará, reverbera mundo afora acompanhada de outras tantas mulheres brasileiras.
As histórias tecidas pelas suas mãos ganharam, a partir desta quarta-feira (1º), um espaço privilegiado para serem ouvidas na Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida de Viena – Universität für Bodenkultur Wien. A exposição apresenta 15 arpilleras brasileiras que registram a dor, a resistência e a esperança das mulheres atingidas por barragens e pelas consequências da mudança climática, organizadas no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Evidenciando especialmente a realidade amazônica, a mostra conta com 13 arpilleras produzidas no Pará, Rondônia e Amapá. Cada peça é um testemunho de resiliência, resistência e esperança e apresenta ao mundo a realidade das mulheres amazônidas a partir das suas experiências com as mudanças climáticas, a destruição ambiental, a exploração dos seus territórios pelo capital e a grande seca que afetou a região em 2023 e 2024. Ainda, outras duas peças se somam e alertam para a crise climática, uma de São Paulo e outra do Rio Grande do Sul, que enfrentou em 2024 um desastre ambiental sem precedentes, na maior enchente de sua história.
Jaqueline Damasceno, da Coordenação Nacional do MAB, explica o contexto das arpilleras produzidas pelas mulheres amazônidas e reforça a importância da exposição:
“As atingidas estão denunciando nas arpilleras as diversas violações de direitos presentes em seu cotidiano, tanto no contexto das grandes obras, como no da crise climática. As peças produzidas na Amazônia retratam a luta das mulheres em defesa do território e da vida. Para nós, a exposição é um importante espaço de visibilidade da nossa luta, em que podemos sensibilizar o mundo sobre a defesa da Amazônia”.
A exposição permanece na Universität für Bodenkultur Wien até o dia 8 de novembro/25. Entre 25 de novembro e 21 de dezembro, estará no Afro-Asiatisches Institut, em Salzburg e de 12 de janeiro a 7 de fevereiro vai a Innsbruck, no Haus der Begegnung. Por fim, as 15 peças retornam a Viena em 20 de fevereiro, para a última exposição que acontece na Igreja Votiva (Votivkirche).
Uma parceria com a h3000
A exposição é parte do projeto “Justiça Climática para o Povo Amazônico”, desenvolvido pelo MAB em parceria com a Associação de Defesa dos Direitos das Populações Atingidas e Soberania Energética – ADPASE, com o apoio da horizont3000, uma organização austríaca de cooperação para o desenvolvimento, com fundos procedentes do Ministério Federal Austríaco de Agricultura e Silvicultura, Proteção Climática e Ambiental, Regiões e Economia da Água, DKA- Austria e Sei So Frei Salzburg.

A coordenadora do Programa Brasil da horizont3000, Kristina Kroyer, relata que é uma honra para a instituição levar as arpilleras à Áustria e conta que muitas pessoas estão cientes da destruição ambiental na Amazônia, o que coloca em risco o futuro de todos nós. Entretanto, “poucos sabem sobre as graves consequências da crise climática para as pessoas e os meios de subsistência na Amazônia”, alerta.
“As Arpilleras exibidas nos permitem vislumbrar as experiências vividas pelas mulheres atingidas e ver a força delas resistindo aos desafios. Agradecemos ao MAB por nos permitir exibir essas obras na Áustria. Elas nos ajudam a compreender melhor os desafios globais que enfrentamos e a necessidade e a responsabilidade que temos de apoiar os atingidos”, finaliza Kristina.
Conheça as peças em exposição
Desde 2021, o MAB mantém o acervo digital das arpilleras produzidas pelas atingidas do Brasil. O arquivo contém 190 peças no total, contando com 50 novas arpilleras atualizadas nesta semana.
No site você também pode conferir as 15 peças em exposição na Áustria: Dia do fogo; Dois extremos de uma mesma crise; Mercado de carbono: para quê e para quem?; Salve a Amazônia; Xingu em chamas; Reassentamento Urbano Coletivo Laranjeiras; Amazônia: Pulmão em risco; SOS Rio Araguari; Atingidos do Amapari; SOS Rondônia; Enfrentamento das queimadas e agrotóxicos pelas mulheres de Triunfo; Justiça para Nicinha; Solidariedade; Memórias da Enchente; e Enchentes no Pantanal.
Acesse: https://mab.org.br/arpilleras-do-mab/