Início Belo Horizonte Circula em Cena fortalece redes e fomenta empreendedorismo

Circula em Cena fortalece redes e fomenta empreendedorismo

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O Brasil é um dos países mais ricos em diversidade cultural do mundo, mas esse patrimônio ainda não chega de forma igualitária a toda a população. Segundo dados da pesquisa Hábitos Culturais dos Brasileiros (Ipea/2022), cerca de 60% dos municípios brasileiros não possuem teatros ou casas de espetáculo, e em mais de 70% das cidades do interior não há cinemas em funcionamento. A oferta de bibliotecas, museus e centros culturais também é concentrada nas capitais e grandes centros urbanos, criando um abismo no acesso da população do interior às artes e à formação cultural.

Essa desigualdade se reflete na formação de profissionais da área e na circulação de espetáculos, que se concentram majoritariamente nas regiões metropolitanas. De acordo com o IBGE, a informalidade no setor cultural brasileiro passou de 45% para 66% nos últimos anos, e embora as mulheres representem quase metade dos trabalhadores do setor, ainda recebem salários menores e enfrentam maiores barreiras de profissionalização. Nesse contexto, iniciativas de formação descentralizada e de circulação cultural no interior tornam-se fundamentais para democratizar o direito constitucional à cultura e fortalecer a economia criativa local.

É nesse contexto que surge o projeto Circula em Cena, uma iniciativa da Olhar Cultural, em parceria com a Associação Livre de Cultura e Esportes (ALCE), idealizada pela curadora e diretora da Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, Aline Garcia. O projeto, estruturado em dois eixos — Mulheres na Cena e Trabalhadores da Cultura — leva oficinas, debates e atividades práticas a diferentes cidades da Região das Vertentes, unindo metodologias de gestão, inovação e práticas das artes cênicas em processos acessíveis e colaborativos.

“Nosso objetivo é descentralizar o acesso à formação cultural, fortalecendo redes locais e incentivando o empreendedorismo criativo como ferramenta de inclusão produtiva e desenvolvimento sustentável”, explica Aline Garcia.

Oficinas que transformam

A oficina Mulheres na Cena tem como proposta dar visibilidade, valorizar e capacitar mulheres empreendedoras, estimulando o reconhecimento de propósitos individuais, a criação de estratégias de geração de renda e o fortalecimento de redes de apoio. Para além da formação técnica, a oficina utiliza dinâmicas inspiradas nas artes cênicas, que favorecem a conexão, a escuta e a confiança entre o grupo. Esse primeiro momento cria um ambiente de partilha mais humano e afetivo, fortalecendo vínculos e permitindo que cada participante se reconheça como parte do coletivo.

Em seguida, entra em cena a ferramenta Canvas, também traduzida e adaptada para a realidade do interior. “O que fazemos é decupar a informação, tornar cada etapa clara e acessível, para que nenhuma mulher se sinta excluída ou deslocada do processo”, explica Aline Garcia. A metodologia, originalmente utilizada em processos de negócios, foi repensada para ser aplicada de forma intuitiva, respeitando os diferentes níveis de conhecimento e as trajetórias pessoais de cada participante.

O resultado tem sido um processo inclusivo e transformador. Em Prados, onde a ação teve início, o impacto foi imediato: as participantes decidiram criar uma cooperativa local para ampliar a governança coletiva e abrir caminhos para novos projetos. A iniciativa demonstrou a potência do programa em gerar resultados concretos a partir da combinação entre técnicas criativas e ferramentas de planejamento estratégico. Desde então, o grupo vem se reunindo semanalmente para estruturar a nova entidade, fortalecer laços e desenhar ações conjuntas.

Já o Trabalhadores da Cultura tem como foco jovens e adultos interessados em produção cultural. Para além da teoria, o projeto aposta em metodologias adaptadas à realidade do setor. A ferramenta 5W2H, tradicionalmente usada em processos de gestão e planejamento empresarial, foi redesenhada pela equipe do Circula em Cena para atender às especificidades da área cultural.

“Utilizamos essa tecnologia ágil e adaptamos seus processos para que o grupo consiga alcançar e visualizar melhor seus objetivos”, explica Aline Garcia, idealizadora do projeto. A dinâmica permite que cada participante organize suas ideias em passos concretos, identifique responsabilidades e compreenda os recursos necessários para transformar projetos em realidade.

Na oficina realizada em São João del-Rei, quase 30 profissionais do setor cultural participaram dessa experiência, apresentando projetos diversos que iam do teatro à música, passando pela literatura e pela produção independente. A diversidade de perfis enriqueceu os debates e mostrou o potencial criativo do território. Ao final, a avaliação foi unânime: ver seus projetos estruturados dentro de uma metodologia ágil deu clareza e confiança para seguir adiante.

As atividades são conduzidas por uma equipe diversa de instrutores e instrutoras: Luiza Cassano (produtora cultural, professora e atriz), Fernanda Távora (designer e agente de inovação), Vinícius Cristóvão (ator-pesquisador e gestor cultural) e a própria Aline Garcia, que acumula experiência em festivais nacionais e internacionais.

Cultura como motor de desenvolvimento

O Circula em Cena responde diretamente a um cenário em que a informalidade no setor cultural brasileiro subiu de 45% para 66% nos últimos anos, segundo o IBGE. Além disso, embora as mulheres representem quase metade dos profissionais da área, os salários ainda são inferiores aos dos homens. A carência de espaços de formação no interior compromete não só a profissionalização, mas também a criação de hábitos culturais nas comunidades.

Com duração de um ano, o projeto pretende deixar um legado duradouro, conectando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que diz respeito à igualdade de gênero, ao trabalho decente, à redução das desigualdades e ao fortalecimento da economia local.

“O que estamos construindo vai além das oficinas. Trata-se de um processo de mediação cultural, no qual a comunidade se reconhece como protagonista, cria vínculos e encontra meios sustentáveis de permanecer produzindo arte e cultura no interior”, reforça Aline.

Próximos encontros

Trabalhadores da Cultura

  • 7 de novembro – Coroas, das 14h às 17h (confirmado)
  • Prados e São Tiago – datas a confirmar

Mulheres na Cena

  • 1º de novembro – Coroas, das 13h30 às 16h30 (confirmado)
  • 7 de novembro – São João del-Rei (turno da tarde) (confirmado)
  • São Tiago e São João del-Rei – datas a confirmar

As inscrições são gratuitas e haverá certificado de participação para quem alcançar pelo menos 75% de presença. As oficinas terminam com um momento de confraternização, reforçando o caráter coletivo e humano da iniciativa.

Siga: @olharcultural.art

Links para acessar as fotos:

Oficina Mulheres em Cena – Prados: https://drive.google.com/drive/folders/1e5xGwjpEWsqqnL8BYSSoyJJMOKiEnMsA?usp=sharing

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